Altamente que você leia esse texto ouvindo La Belle de Jour – Alceu Valença
Era a moça mais linda de toda a cidade. E digo isso conhecendo muitas moças dessa cidade, talvez à primeira vista você discorde, chama a atenção pelo fios escuros e extensos que são complementados pela elegância repentina de qualquer peça de roupa que vista.
É preciso um pouco mais do que simplesmente vê-la para compreender o porquê de tamanha beleza.
Sua beleza vinha da simplicidade que seus traços inspiravam, suas roupas eram reflexos, igualmente lindos, de uma personalidade que se espalhava por todos os espectros de cores que pudessem existir, tinha essa coisa de ser multifacetada.
Fala leve e riso fácil, arrancava o peso das semanas, por vezes extensas demais, com um simples “oi”, seguido de um sorriso acanhado ao perceber que meus olhos ficaram inebriados ao vê-la. Acho que ninguém sabe lidar muito bem com elogios, e se você tivesse visto minha cara entenderia porque sem graça pedia: “para de me encarar”.
Constantemente me pergunto como consigo ser acompanhado por pessoas tão mais areia que meu caminhão. Naquele momento me indagava isso inconscientemente.
Inconsciente também eram os movimentos das minhas mãos, que incessantemente buscavam contato com seu corpo, tentando acreditar que aquilo na minha frente era verdade.
Seus olhos tão escuros quanto os fios inspiravam certa leveza e, ao por eles ser observado, meu trabalho, meus prazos, meus chefes, minhas faturas: sumiam.
E eu, sempre tão falante, me vi calado, porque entre um beijo e outro um sorriso pipocava nos meus lábios. Os sorrisos – e beijos – se alongaram conforme a noite avançara. Sorte tive de experimentá-los mais algumas vezes nos dias que se seguiram, embora a verdade seja que os queria com gostinho de café (na cama).
E ela acabou indo.
Deixava pra trás um gosto de quero mais com tons de saudade na minha boca e a certeza, não sei bem de onde, de que iria voltar.
Voltas sutis que surgiam em convites inesperados, apareciam num bar, num restaurante e inevitavelmente acabavam nos quartos. O meu e dela.
Era a moça mais linda de toda a cidade, e caso não seja, não tenho dúvidas de que você não more na mesma cidade que eu.
@brunoamador