Estou no carro, voltando de um jantar com duas amigas. Elas são o meu tipo de pessoas: tem histórias de amor saindo pela manga do casaco – daquelas mais absurdas, inesperadas e inspiradoras. Acho que me identifico tanto com elas porque eu também coleciono as minhas: desde a vez que eu cai de cabeça tentando impressionar um cara que eu gosto, até os dias de hoje, em que vivo nas espirais com um dos grandes amores da minha vida.
Uma vez, lendo um texto do Gregorio Duvivier sobre os vários tipos de amores, percebi que por mais que eles tenham tamanhos diferentes, vivo todos até a ultima gota. Dos meus amores na fila da cantina até as marés do meu relacionamento de três anos que mantenho até hoje.
Vocês são minhas histórias de bar favoritas e de jantares inusitados. Gosto de contar meus casos de amor, a maioria das vezes, para dar risada das mancadas que eu dei ou das mancadas que vocês deram comigo. Ao mesmo tempo, tenho ouvidos que imploram por histórias, mesmo as que não têm final feliz. Para falar a verdade, gosto muito dessas. É incrível como essas histórias, quando acabam, saem como suspiros subversivos: “Não deu certo, mas veja: eu to aqui. Vivassa”.
Nem todas as histórias de amor tem que ser imaculadas, cristalizadas. A maioria acaba no lodo, na gaveta, outras até estão andam por ai sem final definido. E assim como os amores de diferentes formatos e intensidades, saboreio todas as palavras até não sobrar mais nada.
Então, quando percebo, me vejo pedindo por mais. E ai entra a minha vez de contar minhas histórias. Para todos os garotos que já amei, meus caros, essa carta é para vocês.
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Meu primeiro amor foi embora antes mesmo de eu ter maturidade de chama-lo disso. Meu caro, nós perdemos contato – se bem que esses dias eu achei seu irmão nas redes sociais. Fora isso, você me deu meu primeiro frio na barriga. É engraçado lembrar da primeira vez que senti isso por alguém e, ao mesmo tempo, como eu era tão nova para mesmo saber o que era. Você veio e me mostrou que o amor não precisa ser dito, classificado ou entendível, para a gente só bastava olhos curiosos para ver o mundo.
Meu segundo amor deixou um gosto amargo na boca. Daqueles que não vão embora sozinhos, a gente tem que expelir. E o jeito que eu encontrei para isso foram as palavras: te tirei de mim por meio da escrita, e essa é a única coisa boa que eu levei da gente. Sem prêmios de consolação ou muitas prolongações.
Enquanto isso, no meio dos meus amores marcantes, existiram outros no meio do caminho. Paixões menores, romances que deixei morrer sem querer, outros que terminei depois de duas cervejas.
Desses, só um vale espaço por aqui. Meu querido amor-não-amor. Você me veem em forma de uma situação cômica, cármica e repetitiva que se fundou na minha vida. Tentei entender o que eu sinto por você colocando em caixa, carta, texto.
Não deu, não dá.
O que eu sinto é como uma pedra no sapato que se acomodou. Parece que eu não sei mais caminhar direito sem sentir você ali, incomodando meu andar. Faz falta pensar em não te ter aqui, e por isso não te tiro. Levo a pedrinha comigo de souvernir enquanto o sapato ainda cabe no pé.
Por fim, heis um espaço para o meu último amor. Meu ultimo e primeiro Grande Amor, é em gênese meu melhor amigo. Você, que mora a doze quadras de mim, que não se incomoda que eu demoro para acordar, sabe a quantidade de açúcar que eu tomo no café e todas as minhas manias para dormir.
Meu bem, eu decorei todas as suas pintas, já tracei minhas constelações nelas e por mais te mapeei por inteiro, sei que a gente ainda tem muito chão. Afinal, essa novela nunca tem fim.
No final, sigo vivendo essas histórias com boa cia. Senão acompanhada de alguém, tenho ouvidos curiosos. E isso é suficiente.