Enrolados. Foram os teus fios a primeira coisa que reparei em ti. De costas você andava em direção às tuas amigas quando te cutuquei pra tentar puxar algum assunto bobo. Você parou e sorriu. Demorei um pouco até reparar o sorriso porque tinha me ocupado demais tentando descobrir o tom dos teus olhos, estava escuro e a mudança constante de luzes não ajudava. Estava escuro, mas as coisas ficaram um pouco mais claras quando vi o teu sorriso.
E foi dele que comentei logo de cara quando me recompus. O tom rosado que as tuas bochechas começaram a ficar, mostrou que o teu rosto por si só poderia ser aquarela e com as tuas cores coloriria cada um dos meus versos.
Sim, versos. É que eu até quis te fazer poema, mas os versos, ficariam, assim como o teu cabelo, enrolados.
Enroladas eram as cascas de limão que decoravam meu gin quando saímos pela primeira vez e decidimos ir a um bar. De calça rasgada você entrou no bar e na minha vida. A manga da camisa enrolada, deixou a mostra tuas pulseiras e me contou como elas representavam cada lugar que já tinha visitado. Teu pulso já tinha aquelas marcas do Sol e destoava do restante da cor que seu braço, um pouco mais moreno, tinha.
Enrolados, ficaram os cobertores algumas semanas depois. Resultado da agitação noturna de dois corpos inquietos, que insistentemente buscavam um ao outro. Diferente de Renato, não tínhamos todo o tempo do mundo, sabíamos que o almoço seria a despedida por uma semana que insistia em ser cada vez mais longa. Talvez por isso enrolávamos entre os edredons até que o Sol ficasse tão alto no céu que invadisse a parte vazada da minha janela.
Enrolados, foi como nossos amigos nos definiram durante uma discussão aqui em casa. “Vocês não sabem se vão ou se ficam e acabam nessa lenga-lenga sem pé nem cabeça.” Sem saber muito bem o caminho que seguíamos, resolvemos trilhar ele de mãos dadas, com companhia fica mais gostoso de se perder.
E perdido é o que eu mais fico quando estou contigo. Sem rumo, me perdi nos nossos nós, nos cobertores e nos teus fios; Enrolados.