Eu precisava viver sem você e você sem mim, mesmo que naquele exato momento eu não compreendesse bem o por quê. Eu procurei por muito tempo em alguma das entrelinhas entender as razões pelas quais precisávamos nos separar naquele momento, os motivos pelos quais não poderíamos desentortar os traços tortos da nossa história. Eu não enxergava por estar tomada pela confusão de sentimentos que em mim habitavam. Precisei ir contra minhas vontades e aceitar que o tempo me traria respostas. E ele trouxe. O que houve foi importantíssimo, pois se houvéssemos insistido na nossa relação ela não teria acabado de uma forma que passados anos ainda trouxesse boas recordações.
Compreender não é sinônimo de aceitar, mas pode ser uma alavanca para uma melhora emocional – pelo menos eu pensei que seria. Fiz várias promessas a mim mesma. Prometi que não choraria mais, que ao pensar em ti desviaria o foco, que iria parar de procurar saber como você estava, que iria encontrar outra pessoa, que iria me livrar das nossas fotos, dos presentes… Prometi que iria te arrancar da minha vida, acreditava que tu eras uma erva daninha na minha plantação. Uma pena eu ter esquecido que eu não consigo cumprir com algo que vai contra o que meu coração tanto deseja.
Ontem mesmo dormi e decidi fazer meu dia amanhã ser bom. Estava tudo indo conforme o planejado até você aparecer para mim enquanto eu dormia e ter feito um sonho ser mais real que a própria realidade. Olhei para o porta retrato que costumava ter uma foto comigo sentada na tua cama coberta com de lençóis cinzas com paredes azuis e você sentado em meu colo mostrando a língua enquanto eu sorria. Hoje a foto que ocupa esse objeto de madeira branca com um coração desenhado com glitter vermelho e outro desenhado com a palavra “love” é uma foto com minha mãe. E mesmo você não estando estampado ali foi o suficiente para que eu te enxergasse deitado sobre as minhas cobertas da Disney me contando alguma piada extremamente sem graça, mas que me arrancaria uma gargalhada pela forma ímpar que você conta. Imaginei nós dois molhados da piscina, você me pegando no colo e me pedindo um beijo.
E mais uma vez eu abri a pasta escondida no meu computador que ainda guarda fotografias que me fazem não esquecer de alguns pequenos momentos que minha memória teima em embaçar. A previsão do tempo nos meus olhos foi de chuva e eu havia prometido a mim mesma pela manhã que seria sol. Quando se trata de você eu perco todo o controle das minhas ações e emoções, mas preciso deixar claro que eu estou bem, apesar de ter confessado algo que não aparenta. O vazio que você deixou é que me machuca porque eu tentei preenche-lo, entretanto nenhuma peça era do mesmo formato e então ficou essa falta. Como podemos compreender da fala da Jout Jout: não conseguimos preencher todos os vazios. Azar ser justo esse o que mais dói enquanto poderia ser o que mais trouxesse felicidades.
De qualquer forma, as outras partes completas me fazem bem, mas tem momentos que é necessário deixar esse espaço sem preenchimento escorrer pelo rosto para esvaziar o copo e lavar a alma. Quem sabe uma hora eu finalmente aprenda a viver com tua ausência ou quem sabe a vida resolva nos reaproximar, só sei que até lá eu espero, de coração, que tu guardes as gargalhadas por besteira, as brincadeiras que nos faziam voltar a sermos crianças, a ingenuidade de um amor prematuro, os planos sobre o futuro juntos, sobre as viagens, os beijos tão intensos, as madrugadas conversando por vídeo… Eu espero que me guardes contigo, porque apesar de dizer que vivo bem sem ti e que uma hora aprenderei a seguir sem você, esse não é o meu desejo.