Nunca esquecerei do nosso começo. Ele foi avassalador. Éramos muito amigos e talvez isso tivesse contribuído, mas não demoramos nem um mês pra notarmos a verdade que já estampava nosso rosto há algum tempo. Nos amávamos. Não foi preciso de muito pra chegarmos nesse ponto, bastou o nosso primeiro beijo, aqui nas escadas do prédio, acontecer, que todos os outros subsequentes se desencaderam, em duas semanas me vi acordando ao teu lado na sua cama depois de beber demais e mais uma a gente já tava acordando junto sem precisar de álcool como desculpa.
E era tudo muito gostoso. Toda a sintonia que nos envolveu fez com que os nossos amigos nos abraçassem e começassem a torcer pra ficarmos juntos, sem querer acabamos virando uma espécie de representação de casal ideal. A gente era muito sorriso e entendimento, óbvio que brigávamos, duas personalidades fortes acabariam entrando em atrito alguma hora, mas era incrível como superávamos essas brigas. Eu, quase sempre desmontado pelo tom de mel dos teus olhos, não conseguia ficar bravo contigo, você, quase sempre desmontada por algum chamego meu, não conseguia ficar brava comigo.
Era muito claro que tinha encontrado a mulher da minha vida. Você era linda, inteligente e embora não se chamasse Carolina, tinha um jeito adolescente que me fazia enlouquecer. Nosso relacionamento foi adquirindo nuances de romance de cinema, com beijo de madrugada na areia da praia, no meio da chuva enquanto corríamos no parque, isso sem falar no tesão que tínhamos. Qualquer banho rápido acabava durando no mínimo 20 minutos. Talvez o mundo tenha nos separado por um questão ecológica, temos mea culpa nessa recente crise hídrica que atingiu São Paulo.
Íamos longe, com a nossa juventude estampada na cara sonhávamos com um futuro moldado por um presente de conto de fadas. Esquecemos por um breve momento que a vida era dura demais pra amolecermos tanto nossos corações. Éramos coloridos demais pra monocromia cinzenta paulistana. Éramos vermelhos se o dinheiro estivesse curto e acabássemos na Askov, roxos se passássemos por algum vinho, dourados em situações especiais que requeriam espumantes, mas quase sempre translúcidos, cor da vodka que preenchia nossos corpos antes e durante as tantas festas que fomos.
E não vou sair jogando culpa. A gente era ingênuo demais por acreditar em eternidades. Mas com o tempo o mel dos teus olhos começou a ficar doce demais pra uma boca que cada vez mais se acostumava com o amargor do vinho. E os meus chamegos, passaram a ser só parte de uma rotina que te cansou. Tão rápido quanto começamos, terminamos. Os sinais eram evidentes e embora fossemos jovens demais, tínhamos maturidade suficiente pra reconhecer que não podíamos desperdiçar tempo em coisas efêmeras, a vida já é monótona demais pra aceitarmos relações vazias.
Seguimos nossos caminhos. Você foi em busca de novas histórias e eu, enquanto construía novas, fiz um blog pra contar a nossa. Te prometi um livro, mas por falta de dinheiro, te fiz de personagens em alguns posts aqui. Com a escrita conquistei um dos sorrisos mais bonitos que já vi. E consegui arrancar tantos outros de pessoas que nunca conheci. Espero que esse aqui arranque mais alguns. E conquiste, mesmo que por alguns segundos, o teu de novo.
A gente podia ter ido longe, mas achamos melhor levarmos outras pessoas conosco. Seria egoísmo demais percorremos esse caminho tão bonito sozinhos.
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