Ser mulher não é profissão, estilo de vida e nem consequência. Ser mulher é uma luta diária envolvendo aceitação, medos e espaço. É claro que de antigamente para os dias atuais a situação mudou muito (para melhor), mas ainda há coisas que precisamos ressaltar sobre o que é estar sob a nossa pele. E não são somente situações cotidianas desfavoráveis, mas favoráveis também. Ser mulher é um presente gigantesco e vou te expor isso ao final do texto.
Ser mulher é ter medo de sair na rua e não só por assalto, mas por estupro, por assédio e até por medo de julgamento. É que julgar uma mulher hoje em dia é sinônimo de ofensa e até mesmo de agressão. E aproveitando o gancho: é ter medo de não ser aceita pela sociedade por não se encaixar no padrão “dama, mulher para casar”. É optar por não usar uma minissaia pelo que as mulheres e os homens ao redor comentariam. É que a maldade não vem única e exclusivamente de homem, sabe?! Nós ainda estamos em uma constante batalha para sermos aliadas e não rivais.
Ser mulher é viver o dilema: ser eu mesma ou o que a sociedade impôs? É querer se encher de tatuagem, querer usar tênis e havaianas nas festas, mas com receio de não ser aceita. É viver com dedos sendo apontados por essa sua característica que é incrível, eles só não descobriram ainda: “pode ver que quem tá dirigindo, é mulher”, é saber que pela sociedade seu destino seria ficar presa dentro de casa lavando cueca e passando pano no chão, enquanto o marido ou namorado têm uma vida social, profissional e estudo.
É querer beijar, fazer sexo com quem tiver vontade, mas com o coração apertado pela forma que vão enxergar sua imagem se o fizer, pela incerteza se alguém que você ama aceitaria te namorar sabendo seu passado. É querer se entregar à alguém, mas sufocando seu desejo para não ser taxada de sentimental, fácil ou apegada. É querer bater e enviar foto para o companheiro nua, com receio de que amanhã a cidade inteira “conheça melhor” seu corpo do que você mesma.
“Ficar para titia? Não posso, preciso construir uma família”. E acredite, ser mulher também é sofrer pelo medo de querer decidir seu futuro. Nem toda mulher quer ter filhos, pelo menos não nos planos atuais, mas isso é tão feio, né? Afinal, a mulher foi criada exclusivamente para procriar e cuidar do marido. É engravidar sem intenção, ser abandonada e ainda ser culpada pela gravidez. “Pode ver que deu pro primeiro que viu pela frente e não se cuidou”. “Hum, tu é mãe solteira? Hum.”
Ser mulher aos olhos da sociedade é pedir aprovação. “Essa roupa tá boa? Não tá curta demais?” “Tô pensando em pintar o cabelo, será? Não vou ficar feia?”. É namorar e se tornar dependente sem desejar. É evitar atitudes que são de homens e não de mulheres: “beber cerveja é coisa de homem”, “andar de skate é coisa de homem”, “dirigir é coisa de homem”, “perna fechada”, “não arrota”.
E sabe qual o lado bom de ser mulher? É ser forte, aguentar cólica, gravidez e doenças e mesmo assim estar de pé. Porque cá entre nós: quantos homens ao seu redor pegam uma tosse e já acham que vão morrer? É carregar uma vida, carregar um amor inigualável por nove meses na barriga. Ser mulher é alegria. É colorir um mundo com um sorriso, com uma voz, com um gesto suave. É transbordar sentimentos ao seu redor, é evolução. Ser mulher não é ser doce o tempo inteiro e nem azeda o tempo inteiro, é ser limonada com açúcar mesmo sem perceber. É carregar no peito e no braço a luta e a esperança de que em um futuro próximo homens e mulheres não serão favorecidos por seu sexo, mas sim por suas conquistas.
Ser mulher não tem nada de ruim. O ruim é como somos tratadas perante a sociedade.
Mas e o que é ser mulher aos nossos olhos?
É poder viver uma vida sem medo e é por isso que tantas mulheres lutaram e lutam ainda. Nós não queremos que no dia 8 de março você venha com flores e “feliz dia das mulheres” se no dia seguinte continuar o embuste machista do ano inteiro. Nós queremos viver como somos: seres humanos.
Dani Denez