A minha saudade

A minha saudade tem cheiro de perfume importado, unhas sempre escuras e olhos no mesmo tom. Cabelos longos, com fios finos. Aqueles que são bons de entrelaçar os dedos e ficar brincando. Possui marcas do Sol do Caribe na sua pele e um corpo que mostra que academia pode até ajudar, mas nada supera a genética. Tem luz no nome, infinito nos olhos e mar na fala. Sua voz ecoa nos meus ouvidos e some com qualquer vestígio da minha ansiedade. Ao seu lado, gaguejo não por força do hábito, mas por não saber o que falar.

A minha saudade se aninha nos meus braços quando se deita e alinha seu rosto com o meu. O corpo da minha saudade encaixa com o meu quando nos deitamos. A minha saudade é alta, mas mesmo de salto não fica maior que eu. Bate no meu queixo, deixando a minha boca na reta da sua testa. Algo que torna a minha saudade o par quase perfeito para estar comigo. Quase, porque ninguém é perfeito e isso também se aplica a ela.

A minha saudade reclama das minhas grosserias, mas não resiste a me mandar tomar no cu de vez em quando. Aparece pela tarde e vai embora ao anoitecer, quando resolve ficar até a manhã acaba revirando cada pedacinho da minha vida de cabeça pra baixo. Mas a minha saudade, está acostumada com rodopios. Dança bem a minha saudade e já saiu girando comigo por muita festa, fora os shows que fazia de meia pelos corredores aqui de casa. Deslizava de uma ponta a outra enquanto brincava com o meu cachorro.

Me tira da cama quando demoro pra sair e pede – com jeitinho – pra eu me arrumar, estamos atrasados e embora a minha saudade nunca chegue no horário, gosta de me apressar. Gosta de fazer qualquer coisa que possa me tirar do sério, porque eu faço o mesmo com a minha saudade.

Gosta de ler, a minha saudade, principalmente quando é sobre ela. Fica sem jeito e não sabe muito o que falar, se limitando a mandar um amei e uma cacetada de corações. Nunca soube lidar muito bem com demonstrações de afeto e se forem em público, ela se desmonta. Se esconde entre os meus braços quando se envergonha e não consegue conter o sorriso.

Gosta de viajar e se acomoda em qualquer lugar que tenha uma cama, o teto não é necessário. Gosta de observar as estrelas, me chama pra piscina durante a madrugada e – segurando a sua cerveja – olha pra cima maravilhada. Se prende na minha cintura e morde, bem de leve, o meu ouvido enquanto devagarzinho a gente anda até a borda. Nunca gostou de coisas com muita pressa a minha saudade.

Se arrepia com beijos no pescoço a minha saudade e tem cócegas na barriga, ela tem muita cócegas na barriga e fica puta quando eu insisto em fazê-las.

A minha saudade tem corpo de 20 com birra de 14, muitas vezes não aceita as coisas como são.

A minha saudade virou personagem nas minhas histórias, mas tem uma vida bem real.

A minha saudade tem nome, sobrenome, CPF, RG e endereço. Mora aqui pertinho e de vez em quando resolve aparecer no meu quarto.

Aí ela deixa de ser saudade e só fica, um pouco, minha.

Bruno Amador – clique para me conhecer melhor. No Instagram e Snapchat: @brunoamador

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