Porque existe uma linha imaginária e bem tênue entre o não demonstrar e o demonstrar em excesso.
Estamos mais uma vez em uma discussão. Suas angústias foram colocadas sobre a mesa, seus argumentos foram falados pela sua boca, diria até que “falados” é um eufemismo. Tuas palavras saíram como um jato de água fria sobre nossas cabeças, uma espécie de lavagem da alma que merecia ser exposta há muito tempo. Tuas mãos estão quentes, como nunca as deixei, e não é por prazer. É por puro ódio e arrependimento.
Eu sou a parte fria, sou o fardo de carregar tudo num canto escuro da consciência, que remói tudo e todos os problemas que aparecerem pela frente. Nesse canto, não existe espaço para desabafo, não existem consultas aos amigos ou família, não existem noites gastas em saídas para esfriar a cabeça. Na verdade, saída não existe nenhuma mesmo. Sou a confusão mental inquieta e silenciosa ao mesmo tempo, sou quem fica horas olhando para o nada pensando em tudo, mas que na hora H não diz uma palavra, não levanta uma sobrancelha, não esboça uma silhueta de aflição. Você só queria ver um espelho de você mesma, uma bomba de sentimentos que fossem fáceis de descrever e analisar. Mas, eu não sou assim, eu tentei, mas não consigo.
Algo na hora de botar as coisas pra fora me prende num mundo só meu. Minhas angústias se tornam aconchegadas, como a gente fica quando acorda cedo e tá muito frio. Não dá vontade nenhuma de sair da cama. Minhas tristezas e preocupações se escondem atrás de sorrisos falsos e palavras curtas, misturadas ao semblante de nada, com uma voz melancólica. Eu sou o escracho em forma de sentimentalismo humano. Isso não serve para quem acha que sou ruim ás vezes, até porque isso se aplica ao que sempre fui nos bons momentos também.
Invejo e muito você, por ser essa emoção toda, meu bem. Você chorou em todas as vezes que nos vimos durante nosso primeiro mês. Seja de alegria, seja de tristeza, seja o famoso “chorar de rir”. Você é mais emoção que qualquer poesia que eu tenha escrito, simplesmente por falar nas rodas de conversa. Enquanto isso, guardo aqui comigo tudo o que sempre senti, numa vontade desesperada de subir em um palco qualquer e declamar em monólogo tudo que passa por mim. Eu queria poder contar sobre nossas histórias, tanto as juntas como as que foram separadas. Queria falar do meu cabelo, de como minha mãe era brava e superprotetora quando era mais novo, e depois mudou radicalmente por motivos de “meter o foda-se” pra vida. Eu queria talvez até, ser um pouco desse lado de mamãe. Mas, ainda é cedo pra que minha alma transcenda toda essa vibração pra fora.
Eu ando calmo, tranquilo, paciente, mas só por fora. Por dentro eu sou todo você. Acredita em mim quando eu te olhar vazio. É tudo o que eu tenho pra te mostrar. A não ser que entre na minha cabeça, e descubra assim, como eu sou realmente.
Lucas Fiorentino / @lucasfiore_