Tem um par de olhos, a minha garota, que mais parecem bolas de gude. Redondos, brilhantes e escuros. Rolam pelo meu imaginário e me observam enquanto escrevo, enquanto cozinho, enquanto os observo. Sorriem, os olhos da minha garota, suas pupilas dilatam cada vez que me aproximo e tento de alguma maneira expressar o tamanho do carinho que tenho por ela, “é do tamanho da profundidade do teu olhar”, eu falo. Ela não entende muito e apenas sorri quando digo isso. Mas, se ela a visse como eu a vejo entenderia, seu olhar é profundo, um oceano calmo, morno e acolhedor. O tipo de mar que você entra de cabeça e fica ali boiando até teus dedos enrugarem.
A minha garota
Tem unhas a minha garota. Unhas vermelhas, pretas, ou azul. Quase sempre escuras pra combinar com seus olhos e por vezes roídas, pra combinar com a sua carga semanal de provas e trabalhos. Arranham, as unhas da minha garota, deixando para trás marcas vermelhas que saem dali algumas horas, não quer te machucar e até por isso qualquer ferimento causado por ela é sem gravidade, “marca de carinho” ela fala baixinho no meu ouvido.
Tem uma boca minha garota, cheia de segredos e dentes perigosíssimos. Mordem e arrepiam, seus dentes, complementam o seu beijo e deixam tudo mais bonito quando resolvem aparecer ao mundo em forma de sorriso. E o sorriso da minha garota é um capítulo à parte do seu ser. Me faz sorrir, me deixa idiota o sorriso da minha garota.
Brinca com meus dedos, a minha garota. Mexe na minha nuca enquanto me beija e brinca com os fios do meu cabelo depois, esticando e soltando cada cacho dele. “Parece de anjo”, ela diz, “mas só o cabelo mesmo”, complementa.
Tem inteligência, a minha garota. Discute política, história e um pouquinho de ciência, não é a rainha dos números, mas seu esforço garante as férias adiantadas no início de dezembro. É estudiosa, a minha garota. Resume, grifa e lê, passa horas sentada em frente aos seus livros, estuda na mesma proporção que eu assisto Netflix. E eu assisto Netflix pra cacete.
Gosta de praia, a minha garota. Entra no mar, mergulha e pega as conchas que têm no fundo, já teve uma coleção delas, mas acabou esquecendo onde guardou o potinho. Gosta de correr na areia e sentir o cheirinho da maresia invadindo cada centímetro do seu nariz, deixa mil cremes no box pra garantir que o cabelo irá ficar aceitável enquanto estiver no litoral. É vaidosa, a minha garota. Seu perfume tem cheiro de fruta, seu cabelo é macio e sua pele, lisa. Como é bom deitar no colo da minha garota.
Gosta de ler, a minha garota, principalmente quando lê coisas sobre ela. Acha lindo o efeito que as palavras têm nas pessoas. Até por isso quer ser advogada, ou jornalista, talvez bióloga. É indecisa, a minha garota e por isso não sabe muito bem o que quer fazer no final de semana. Talvez ela viaje, talvez ela vá em alguma festa ou talvez você a encontre aqui, entre os meus cobertores.
É gostoso quando se enrosca nos meus lençóis a minha garota. De cabelo bagunçado ela surge do meu lado e pede pra eu colocar algum show. Gosta de música, a minha garota. John Mayer é quase sempre o cantor que embala o show que ela faz quando se deita comigo.
Não é muito de ficar parada, a minha garota, corre, dança, (acha que) canta e encanta. E a “minha” é só pelo carinho mesmo. Odeia gente possessiva, a minha garota. Então por isso resolvo chamar ela por outros apelidos… otária, chata, magrela. Morena.