A garota do vestido

Entrou no bar como se fosse uma modelo entrando na passarela, olhar para cima e um andar convicto, ciente do seu poder, nem virava o rosto para avaliar as pessoas ao redor, ela sabia que todos os olhares estavam voltados para aquele corpo que se escondia atrás do seu vestido azul. A sua roupa passava um ar de moleca, vestido e vans, ela tinha um rosto lindo, sua pele parecia suave e sua pernas estavam lisas, as unhas feitas mostravam que ela cuidava de si e o cabelo preso mostrava o tamanho da sua segurança. Antes mesmo de me aproximar eu já sabia que ela tinha tudo para roubar de mim algo que poucas nesse mundo conseguiriam roubar. Um gole da minha cerveja. E talvez um pouco do coração.

Notei ao fundo um rosto familiar se aproximando, olhei bastante, mas não me recordava de onde o conhecia, ignorei. Voltei minha atenção ao jogo que passava no telão tentando ignorar a música sertaneja que alguém cantava ao fundo, ou ao menos era isso que o infeliz tentava fazer. A cerveja tinha ficado quente, tamanho o tempo que eu tinha observado a bendita menina de vestido azul desfilando pelo bar, ela parecia meio perdida, como se esperasse alguém, seria um namorado? Uma namorada? Ou uma amiga? Tomara que seja uma amiga, facilita a aproximação. Pedi outra cerveja para o garçom, deixar meu sangue um pouco mais etílico também facilitaria – e muito – a aproximação.

Procurei a bendita pelo bar de novo depois de uns minutos e notei que ela estava sentada na mesa com a menina do rosto familiar. Novamente fiquei olhando aquele rosto e depois de um belo gole no copo – daqueles que fazem um bigode com a espuma da cerveja – reconheci o rosto. Era uma amiga de infância, tinha se mudado para Deus sabe onde, não a via desde que tinha 13 anos. Um sorriso meio maldoso já aparecia no meu rosto à essas alturas, minha mente sempre criativa já tinha bolado toda a noite, a amiga de infância junto com a garota do vestido azul era algo perfeito, iria me aproximar falando com a amiga, iria perguntar sobre a vida dela e ela por consequência iria querer saber da minha. Provavelmente comentaria das coisas que eu escrevo e sem sombra de dúvidas isso facilitaria MUITO o processo.

Me aproximei como quem não queria nada, cutuquei a minha amiga e o sorriso que ela abriu foi absurdo. Esqueci de comentar que éramos muito próximos, quase irmãos, sim eu demorei para reconhecê-la, me julguem.

Puxei uma cadeira e me sentei à mesa com elas – à mesa, não NA mesa. De nada. Continuei conversando com a minha amiga sem tirar os olhos da garota do vestido. Tirei a minha carteira do bolso de trás para conseguir me ajeitar na cadeira e a coloquei do lado do meu copo. A frase vai soar meio mal, mas a minha carteira fez a garota do vestido começar a falar comigo.

Eu tinha comprado ela numa loja online, chamada dobra – a propósito, super indico https://querodobra.com.br/ – a carteira era toda estampada, com as calçadas do calçadão do Rio (como você pode ver ao lado) e quando você abria o bolso de guardar dinheiro aparecia uma frase “Continua lindo…”. Isso fez com que eu pudesse falar da minha naturalidade e ela amou.

Continuei conversando com elas até que finalmente minha amiga perguntou sobre os textos. A garota do vestido olhou para mim com uma cara de chocada “você escreve?” eu realmente devo ter uma cara de vagal, porque as pessoas sempre têm o mesmo espanto quando descobrem isso. Respondi que sim, cheguei mais perto, puxei o celular e mostrei alguns escritos. A tática é velha, a tática é suja, a tática é certa.

À essa altura do campeonato já tinha abandonado completamente meus amigos, com certeza seria xingado depois, mas nada que eu não supere. Ela estava na minha, eu podia sentir, ela se inclinava e mexia no cabelo e sorria com as minhas piadas idiotas. Pude reparar nos seus olhos, como eram lindos, podia sentir o cheiro do seu perfume e era doce, um doce delicioso que ficaria marcado por algum tempo nas minhas roupas. Se ela tivesse chegado a encostar em mim naquela noite, óbvio.

O celular da garota começou a tocar, ela olhou para a tela e apenas ignorou a ligação. “Quem era?” perguntou minha amiga intrometida e já um pouco alterada, “Meu ex”, respondeu a garota com uma cara de desprezo. O cara insistiu nas ligações, todas ignoradas e quando ele notou que as ligações seriam ineficazes, partiu para as mensagens. “Voltr prra mim!” Foi uma das mensagens que consegui ler, deduzi que ele provavelmente estava bêbado em algum lugar, escondido dos amigos mandando mensagens para ela. Quem nunca mandou mensagem bêbado para ex que atire a primeira pedra. O amor é uma merda. Ainda mais se não for correspondido.

Tirando esse fato, que poderia ter sido um senhor problema a noite correu normal. Até que o problema veio de onde eu menos esperava, a garota do vestido saiu para o banheiro e a minha amiga, sim a amiga de infância, resolveu falar assim, na lata, que queria ficar comigo. Ela me quebrou. Sorri, disse que éramos muito próximos para isso, mesmo que estivéssemos um tempo sem nos falar eu ainda sentia uma carinho paternal por ela, o que não era mentira, expliquei tudo, a fim de evitar qualquer mal entendido ou constrangimento na mesa. Ela sorriu de volta, disse que entendia. A garota do vestido voltou para a mesa e nós dois fingimos que nada tinha acontecido.

Eu tinha estranhado meu celular não ter vibrado em nenhum momento da noite, tirei ele do bolso e notei que estava sem bateria, olhei ao meu redor e o bar estava vazio, tinham alguns casais pelos cantos e meus amigos na mesa de trás, chequei o meu relógio e já eram três da manhã, lembrei que tinha que buscar a minha irmã. Avisei ambas que tinha que ir, elas pediram para eu ficar um pouco mais, mas recusei, a Marina fica bem brava quando me atraso para as coisas, fui até o caixa e paguei o que tinha consumido e um pouco da conta delas, pedi uma caneta e um papel e voltei até a mesa das meninas.

Pedi o número da garota do vestido e ela até tentou disfarçar, mas ficou toda sem graça. Foi aí que a minha amiga sacou tudo, olhou para mim com um sorriso e mexeu os lábios, disse sem emitir nenhum som “eu apoio” sorri de volta e peguei o papel. Saí correndo, caçando a chave do carro e guardando o papel dentro da carteira.

Esse texto terá uma continuação na quarta que vem e pode ser acompanhado por aqui ! E só foi possível graças a nossa parceria com a dobra, essa história não teria acontecido sem a ajuda deles ❤

Bruno Amador – clique para me conhecer melhor

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