Sabe a música que você ama? Aquela que quando toca arrepia-se cada mísero pelinho do braço. Que faz o coração bater mais forte e a vontade de sair dançando por aí cada vez maior. Nada mais decepcionante seria se a caixa de som, aquela de última geração, que anima qualquer ambiente, que te fez gastar todos os contados “dinheirinhos” da sua mesada, não conseguisse funcionar propriamente, por que o cabo ligando os dois está com mau contato. Timing errado é isso: o verdadeiro mau contato.
Não sei se você já ouviu falar neste fenômeno, muitos chamariam de “mimimi” ou falta de vontade de resolver a situação. Como a mortal que vos escreve já passou por isso queria muito ter conhecido figuras como vocês, tão espertas e sabidas do mundo para ter resolvido meu problema. Aliás, deixe o contato do wpp nos comentários, gostaria muito marcar uma consulta ou quem sabe indicá-los para alguma outra alma desesperada futura dado a frequencia que nós, pessoas mimizantes de plantão, não queremos resolver a situação. Bullshit.
Não há nada mais frustrante que um relacionamento que não funciona em razão do tempo que não bate, das fases que destoam, desse eterno cabo que falha em conectar propriamente a música e a caixa de som, o queijo e a goiabada, fogueira e a brasa, avião e asa e por aí vai.
O tempo é externo, é maior que todos nós. E se for pra personifica-lo, eu mudo o famoso ditado: “Quando o tempo não quer, dois não fazem” (mesmo querendo muito). Alguns de nós aprendemos desde pequenos a acreditar nesse força maior, na sua coerência e inteligentes ações. “Dê tempo ao tempo”, sua mãe dizia, mas cá entre nós, mamãe que me perdoe: dar tempo ao tempo é difícil e chato (pra caralho).
Difícil porque ter a paciência e parcimônia para entender que tudo tem sua hora é mais raro que abrir o freezer e achar sorvete no seu designado pote (não consigo entender porque usam aquilo pra guardar feijão e afins). E principalmente chato, porque quem já amou entende que o amor não tem nada de lento, de sereno. Mesmo nos casais mais “zen”, a intensidade é inevitável. O olhar que brilha, o toque que deseja, a saudade que mata, o beijo que sossega ou atiça, o abraço que protege. E se não for assim, perdão, não é amor. A gente quer amar, e quer amar pra hoje.
Mas ao cair nos contos de branca de neve e Cinderela, onde amar significa encontrar a metade da laranja, padecemos por esquecer onde vivemos. Nesse mundo frequentemente vê-se laranjas inteiras, procurando outra fruta para fazer companhia e não um preenchimento. Ainda bem, o contrário significaria que somos eternamente dependentes de alguém e ai já não é amor, é possessão. Não estou dizendo que somos todos seres narizinhos em pé, dotados de um egoísmo anormal e incapazes de fazer algo pelo amado. Digo que somos feitos de sonhos, ambições próprias e muitas vezes os do outro não acompanham nosso ritmo e vice-versa.
E aí o sentimento sofre, é uma eterna luta contra a correnteza que parece não ter fim, há gritos, lágrimas, brigas, a frustrada vontade de conciliar duas vidas que naquele momento…o tempo teima em não querer ajudar.
A decepção é tanta, que começam as crises existenciais. Aquela falsa crença de que nada dá certo, de que o destino não lhe trata bem. Incrédulos, pensamos: que vida é essa minha, onde nem o que tem tudo pra dar certo, dá de fato certo? E é real, a indignação é louca: vocês se dão bem, a sintonia é perfeita, por que diabos o tempo tem que dizer que não é hora? Vai ser hora um dia senão agora? Tudo é muito incerto, exceto amor que existe, mas que não pode ser.
Mas voltarei no que sua mamãe um dia disse,e te peço que não fique bravo(a) comigo. Outro dia escutei não sei onde, o que não importa pois a informação ofuscou a fonte, que a vida é um eterno desenho de ligar os pontos. Filosofe por um momento e concorde comigo: “pqp” é verdade.
Ao olhar de inicio, dado a complexidade da coisa, não se consegue saber o que é. E quando você acha que está entendendo…pronto, vem a vida e lhe mostra mais uma vez outro segmento indecifrável em primeiro momento. E desculpe te informar, vai ser assim, continuamente, até o dia que o caixão fechar. Ou a gente dança com a música sem a caixa e vê no que dá ou fique aí eternamento colando silvertapes e retelhando o amor para que ele funcione, quer dizer, o cabo.
Entende? Pode ser que venha outro cabo melhor ou até uma outra caixa que não precise de cabo, não sei! Sei que hoje entendo dar “tempo ao tempo”; é permitir-se entender a figura que foi pré-desenhada especialmente pra mim, e não muda-la ao meu gosto, afinal, quem sou eu para mudar? Sou tão menor que tudo. Imagine o quanto alguém que perdeu o horário para entrar no Titanic não agradeceu? Vai ligando os pontinhos, acalme os nervos, e deixe esse mundão te surpreender, porque ele vai.