São sete. Ao me deitar de costas na cama eu contemplo um teto vazio que não me oferece respostas, nem poesia. A luz da manhã se esgueira pelas frestas da janela e um raio de sol ou outro consegue atravessar até chegar ao seu rosto adormecido. A respiração baixa ao meu lado dita o ritmo das palavras que escrevo, o vinho, ainda preso nos meus lábios, dita o teor de cada frase.
O menino é poesia que se escreve sozinha pelas reentrâncias e crateras daqueles olhos adormecidos que, quando acordados, me oferecem o mundo. O sono, quieto, calmo, oferece a paz e o silêncio mental que equilibram cada instante do dia mais longo e intransitável. As mãos dormem, mas não deixam as minhas, e o toque involuntário do corpo adormecido é reconfortante como nada que lá fora esteja desperto.
São sete. Eu escrevo sobre escrever poesia a respeito da ambulante fonte de inspiração que o sol ainda ilumina ao meu lado. Escrever poesia sobre a minha própria poesia.
O menino tornou a coisa toda muito mais difícil. Escrever sobre um amor que não joga sal nas feridas.
Ao meu lado, eu escuto, e talvez seja obra da mais fértil das imaginações, o compasso lento de seu coração calmo e é o que motiva meus dedos a digitarem. Eu o ouço e transcrevo, simplesmente.
Você se escreve sozinho, menino. A minha função é só procurar as palavras que se encaixam melhor. As definições que tentam definir o indefinível, os adjetivos que caracterizem, ao máximo, algum detalhe que os meus olhos captem enquanto você está aí, ocupado sendo você, alheio ao efeito de um singelo movimento. A minha função é tecer, com as palavras, a teia mais bela. Você faz com que as frases jorrem, transbordem, e eu as preciso encaixar da forma mais precisa.
Nunca precisa o suficiente, porém. Nunca tão preciso quanto o seu corpo ao meu. O seu corpo dita e eu escuto, escrevo.
E a frustração de não conseguir captar, em sua totalidade, todo o sentimento, se dissolve quando o sol das sete te faz acordar por um breve segundo, me ver e sorrir. Suspiro e, ao voltar os olhos para o teto que não me oferece respostas, os céus lá fora me dizem o que já conclui: que nunca vou conseguir escrever sobre você exatamente como o meu coração te vê.
E, talvez, essa seja a forma mais gratificante de se falhar em meu ofício.
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