São 23h33 … Dizem que os melhores e mais incríveis poetas que já falaram sobre o amor, não amaram.
Hoje entendo que, na verdade, foram muito mal compreendidos. Eles amaram, e amaram muito. Amaram de forma que somente seres humanos escolhidos a dedo são capazes de amar. Não sei o critério dessa escolha. Mas as pessoas normais insistem no amor. Pessoas como eu, o amor que insiste.
Eu sou um desses poetas que viveram um amor intenso e acabou frustrado e de coração partido. Deixado.
Tanto amor pra dar, e ninguém pra receber.
Agora entendi de onde nascem reflexões ou músicas românticas. São sobras de amor eterno. São fragmentos de juras que nasceram sem pretensão de morrer um dia, mas foram assassinadas sem ao menos a chance de se explicar. É cada “eu te amo” que já não faz mais sentido, é cada sorriso que não se abre mais, é cada rosa que deveria ser entregue mas por ironia nem floresceram.
Me intitulo abençoado, pois apesar dos pesares, como disse, fui escolhido pra receber a dádiva de amar alguém. Mas não é amar do tipo filmes ou livros, é amar alguém de todo o seu coração. Consegue compreender a magnitude que é, um garoto de 18 anos amar alguém de todo seu coração? Algo incrível né? Suportar o fardo de entender que esse amor não é mais valorizado, também é um feito excepcional. “Certas coisas acontecem como experiência”. Nunca me apeguei muito a isso, hoje me apego menos ainda, a experiência não vem de coisas ruins, pessoas inteligentes adquirem experiência. Viver não significa ser experiente e não existe acúmulo de experiência durante o passar dos anos, se isso fosse verdade a vida seria inútil. Se viver fosse adquirir experiências morreriamos sem um motivo pra usar elas. A questão é, que amar é infinitamente complexo e simplesmente simples, ninguém me ensinou a amar eu fui e amei e não me arrependo disso.
Voltando ao foco inicial, estou ouvindo o álbum “Continuum” do cantor John Mayer. Mais especificamente a canção “Slow Dancing in a Burning Room” “Dançando lentamente em um quarto em chamas”, me sinto exatamente assim, me sinto acompanhando os tons e compassos da canção que toca em tom audível e que se encaixa no barulho das chamas se alastrando rapidamente por causa do querosene espalhado pelo chão. Estou dançando num quarto em chamas, mas não com o desejo de me entregar a morte, de ver as chamas me engolirem. Vejo de outra forma. Isso representa superação, tirei a morte pra dançar e dei um show de valsa nela.
O que tem haver o amor com isso? Uma metáfora, o amor é o querosene, a pessoa é a mão que segura o esqueiro, o quarto é um coração é a morada do amor e eu sou apenas eu. O esqueiro inicialmente está nas minhas mãos, mas a decisão de acender o fogo é demais pra mim, não posso tomar essa decisão sozinho, e ela sempre foi mais forte que eu. Nós trancamos no nosso quarto, espalhamos o querosene pelo chão, entreguei o esqueiro nas mãos dela e assisti ela botar fogo na morada do nosso amor, e enquanto administrava aquela informação na minha cabeça, enquanto eu via o amor ardendo em chamas, pude imaginar que de certa forma aquilo era um suicídio. Foi o suicídio mais doce que eu já vi.
O nosso amor é algo visivelmente intenso, nem eu nem você somos capazes de compactar ele em quartos. Por isso precisamos do querosene, do esqueiro, e a música, a música é pra lembrar que em coisas curtas existem uma eternidade infinita. Ouvir uma boa música é como se apaixonar por alguém, você sabe que uma hora a música acaba, mas cada nota ecoada no seu ouvido te faz ter prazer em ir até o final.
Agora está tocando “Dreaming With A Broken Heart” “Sonhando com um coração partido” Estou sonhando mas não é um coração qualquer é o meu coração, não entendo bem o porquê ele esta partido, mas sinto um rasgo no meio dele, e o que consigo assimilar é que algo foi arrancado de forma brusca de onde não deveria e isso causa toda dor, é hora do reparo. Enquanto se conserta o coração, se vive um dilema entre abrir mão do amor, ou cultivar ele. Essa talvez seja a dúvida mais difícil que existe e isso é um dos motivos que me faz pensar que as pessoas com a intensidade de amor que eu vivi são escolhidas a dedo, nem todo mundo é capaz de escolher a coisa certa.
Tentei sentir raiva dela, tentei odiar ela, tentei xingar ela, tentei por ela pra baixo, tentei ser grosso com ela, tentei arrancar ela da minha vida, mas todas essas tentativas não saíram da minha mente, e foram frustradas lá mesmo. Devido as circunstâncias, acho que sabem o que eu escolhi, eu cultivo esse amor. E vou sempre cultivar. De tantas coisas que fiz, essa é minha maior prova de amor por ela, amar ela em segredo, amar ela quando nem ela mesmo se amar, amar ela quando ela errar, e a maior de todas, amar ela se algum dia ela deixar de me amar. Acho que até aqui, notaram o quanto é difícil amar, ou o quanto sou louco por amar assim. Mas vocês não a conhecem e nem conhecem nossa história.
Ela é espetacular, poderia descrever o físico dela por horas, ela é linda, um dos corpos mais lindos que já contemplei da cabeça aos pés. Mas não é por isso que a amo, é por outras razões, são pelas coisas que muita gente diz que vê, só pra parecerem pessoas boas, mas na verdade poucos enxergam.
O que me atraiu nela é a forma que ela ama azul, é o jeito que ela imita voz de criança e realmente parece uma, mesmo tendo 19 anos, e o fato de que ela fica louca quando vê um Oxford que ela não tem ainda, é o jeito como ela se olha no espelho e se sente linda, é a certeza na voz dela que eu notava quando eu chamava ela de gostosa e ela dizia “eu sei que sou”, é o sorriso que ela rasgou quando eu entreguei a primeira rosa, é o brilho que vi no olho dela, é a forma com a qual ela me deu o urso que ela mais amava, por que me amava muito, era o jeito que ela falava palavrões mesmo me dizendo que não gostava de falar, foi às vontades loucas dela, foi os desejos, foi a forma como ela encarava o mundo, e no fim admito que me sentia protegido, ela sempre será mais forte que eu. Foi o dia em que planejamos um casamento que não vai acontecer, foi quando imaginamos roupas que não íamos usar, foi cada instante que eu pude chamar ela de minha, foi o fato do dedo do pé dela nunca ter sorte (ela sempre machucava ele), foi o jeito indefeso que eu vi nela quando a vi chorar pela primeira vez, foi o sonho dela de ganhar o mundo. Confesso que o mundo é muita coisa pra mim, mas eu quis conquistar ele porque eu queria ela, e esse era o sonho dela. São infinitas coisas, que só ela tem, foi uma junção de coisas que formam ela. Não foi por qualquer qualidade ou adjetivo, eram coisas únicas. Tinha que ser ela.
Eu não deixei de viver minha vida por ela, ela se tornou minha vida e deu um motivo pros meus sonhos, sonhar teve mais sentido acordado do lado dela do que dormindo sozinho. Ela é tão incrível, e a forma como ela detalha as coisas me deixam perdido num êxtase de ternura e paixão. O meu olhar era mais iluminado que Paris quando eu contemplava a beleza dela. Eu acho que já entenderam o porquê ainda amo ela, a pergunta agora é porque não estamos mais juntos. O amor insistiu na gente, porém transformamos o amor numa intensidade maior do que fomos capazes de suportar “Nossa relação era muito intensa, por isso Deus nos separou, te fez sol, me fez lua, e o eclipse, o eclipse é a prova que o amor existe” .Não estar com ela não significa deixar de amar, não significa esquecer ela, e a essa altura, as lágrimas viraram sorrisos causados pela lembrança cultivada através de uma saudade. Sinto o gosto da boca dela, ainda tenho lembranças da sensação que o beijo dela causava, era uma chacina de tesão onde o sangue era o vermelho do batom que se perdia a cada beijo, e arma do crime ia embora com cada peça de roupa que sumia no caminho curto da sala pro quarto.
Lembrar disso me faz sorrir, me faz lembrar das vezes que você sorriu e gargalhou, me faz lembrar das vezes que a gente dançou, me fez lembrar da sua cara quando sentia tesão, me fez lembrar da sua cara de brava, me fez lembrar das suas crises de ciúmes, me torna nostálgico. Cada brecha que abro lembrando da gente, se transforma em precipício de memórias sem fim do qual eu vivo contra a gravidade caindo em meio aos beijos e declarações de um casal apaixonado. Nesse exato momento o amor se tornou mais lindo do que no começo. E a dádiva é maior ainda, o fardo não pesa, o sorriso voltou, o que resta de novo é a saudade. Meu coração se alegra sempre que ouço o nome dela, a felicidade está em saber que ela está bem. O significado do amor está na gratidão e a eternidade mora na intensidade dele. Nosso amor me fez eterno, e nosso romance com ponto final me deu uma infinidade de vidas que vivo até hoje e vou viver sempre com a certeza de que serei feliz com alguém um dia, mas foi aos 18 anos, no ano de 2016 que eu encontrei o amor da minha vida. Não me acho novo demais pra dizer isso, amor não tem haver com idade e sim com intensidade, e ninguém vai me fazer ser tão intenso quanto você.
Hoje sei que os melhores poetas, são os que tiveram as melhores histórias de amor, cada um deles tem um amor da vida como inspiração, eu tenho o meu e além de me fazer ser e sentir tudo isso que citei ainda me tornou um dos melhores poetas que já falou sobre amar um dia. Obrigado, obrigado.
PS: seu sorriso sempre vai me inspirar, eu sempre vou te amar.
Henrique Silva