Eu tinha alguns planos pra esse final de semana. Já havia pensado em absolutamente tudo: como eu iria chamá-la, como eu iria desligar o celular de um jeito que fosse confiante e que ela percebesse que eu estava convicto, como eu a levaria e traria de volta. Mas, as coisas saíram fora do planejado, como de costume. Liguei para ela no intuito de conseguir alguma coisa, nem que fosse uma conversinha melhor. Tudo que recebi foi um convite de volta.
Ela disse que não poderia sair comigo, pelo menos não exatamente para onde eu queria levá-la. Pediu que eu fosse compreensivo, já que ela sempre foi tão assim comigo. Eu entendi, cabisbaixo, mas entendi.
Já ia desligar o telefone quando ouvi um “Ei, espera!”. Não era pra eu ir embora, era só pra eu entender que ela era diferente. Queria me levar para o seu jardim. Fiquei meio espantado, quem troca uma saída comigo por um jardim que dá pra ver todo dia? Ainda mais de final de semana. Não era bem isso. Atrás da casa dela, havia uma parte de floresta enorme, que ela gostava de revisitar de vez em quando.
Aceitei, não tinha nada a perder mesmo.
Chegando o dia, fui até sua casa e então ela me mostrou: Uma imensidão de verde e de árvores belas, daquelas enormes que você só vê em filmes. A gente que mora na cidade não tá acostumada a tanta beleza natural assim, ainda mais na porta de casa. Andei com ela algumas horas por ali, esquecendo completamente a ideia inicial que eu tinha de sair. Agora eu conseguia entender porque ela ia me trocar assim tão fácil.
Ela sentou, apoiou suas costas no tronco de uma árvore. “Aqui é o meu lugar. Sinto mesmo que é a minha casa. Moro aqui desde pequena e nunca vi um lugar tão bonito. E olha que já fui pra Paris, NY…”.
E eu consegui compreender. Compreensivo como ela havia me pedido pra ser. Ela era natural, daquelas que não consegue ficar sem respirar o ar puro. Que se diverte mais em uma cachoeira gelada do que em 10 noites numa balada qualquer. Que não precisa de muito pra saber que o mundo é perfeito como ele acontece no momento.
“Eu danço com as flores e com alguns bichinhos que acho aqui”, ela disse. “É como se tudo se tornasse um só, uma harmonia imensa”. Completei que eu gostava de ficar no PC nas horas vagas, nunca tinha imaginado alguém que curtisse ver animaizinhos. Ela riu, como quem não compreendesse tamanha tolice minha.
Realmente, quem não gosta de um vento na cara? De viajar e ver o natural do mundo? Ela tinha um pouquinho disso no quintal de casa. Com pedras, árvores, até esquilos minúsculos. O cheiro de tudo era como um perfume essencial do verde ao redor. O som dos pássaros, melhor do que as músicas que eu coloco no fone pra dormir tranquilo.
Eu estava errado desde o começo, e ela, certíssima. O natural é bem mais belo que o cinza dos corações normais.