Bárbara

“Você já tá pronto? A gente vai se atrasar!” dizia a mensagem que recebi, respondi que sim e que só faltava o tênis, ela me disse que faltava achar um vestido e acabar a maquiagem, a conclusão que iríamos nos atrasar era óbvia, mas não seria eu a causa. A Bárbara tinha essa mania de me apressar, me apressava no banho, me apressava nos restaurantes, me apressava para sair de casa, o único momento que ela não me apressava era enquanto eu dirigia, parecia não confiar muito nas minhas habilidades ao volante…

Desci para o carro e me dirigi lentamente até a casa dela, sabia que iria ter que fazer hora na rua então já fui com o Ipod preparado, passaram-se exatamente meia hora do horário da mensagem até o momento que ela desceu, fiquei quinze minutos na rua esperando – às vezes subestimo a capacidade dela de enrolar. Mas confesso que a cena dela descendo as escadas do prédio valeram cada minuto esperado, ela estava Bárbara. E também quase caiu, o que me fez ficar rindo por um tempo da cara dela, até ela me xingar, é necessário saber a hora que a sua vida começa a correr perigo.

Assim que ela entrou no carro já tirou as minhas músicas e colocou as delas, reclamou do frio do ar-condicionado, perguntou se as portas estavam travadas e queria saber se eu tinha avisado aos meus pais que ela ia dormir em casa. Às vezes eu a chamo de mini-Hitler, ela não entende o porquê.

Tínhamos que ir ao aeroporto, dali cinco horas era o casamento de um primo e ela foi convidada de uma hora, depois de muita insistência por minha parte, não para ela ser convidada, mas sim para ela ir, a vergonha consumia seu ser, só que eu sabia que no fundo ela curtiria a festa, até porque o casamento seria em um hotel gigantesco, não me pergunte de onde saiu o dinheiro para isso.

Entramos correndo em Congonhas e enquanto estávamos na fila para o embarque “puts esqueci meu rg” a cara de culpada dela não impediu o xingamento que saiu logo em seguida, riu de mim e mostrou o documento, péssima hora para brincadeiras. Os sustos se limitaram a erros de rota no Waze durante o caminho até o hotel depois de chegarmos em terras cariocas, mas nada muito grande que não pudesse ser superado em segundos ao recalcular a rota.

Chegamos no hotel e eu imediatamente conclui que pularia na piscina no momento que a cerimônia acabasse, tinha toda uma agenda, a festa era três horas depois da cerimônia que começava às três e acabava às cinco da tarde. Não há muito o que falar sobre o casamento, chato, sono, a única coisa que valia a pena saber era que eu estava com um shorts debaixo do terno, assim que a cerimônia acabou entreguei as minhas coisas para a Bárbara levar com a maior boa vontade do mundo, depois de uma leve discussão, para o quarto.

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Ela voltou uns vinte minutos depois determinada a ver o pôr do Sol em volta da piscina, pediu para que eu não a molhasse, mas até você que está lendo saberia o que eu faria depois desse pedido. A puxei para dentro da piscina o que ocasionou em uma série de beliscões e xingamentos, tirou algumas fotos da paisagem e voltou ao quarto para tomar banho e se trocar.

Levei algo para a gente comer e separei a roupa que usaria na festa, troquei a camisa pois havia manchado com alguma coisa e por consequência a gravata, ela ficou meio puta quando viu que eu tinha trocado de roupa e reclamou que usaria a mesma roupa na festa, disse que todas as pessoas fariam isso e o diferentão seria eu, convencida ela se trocou e fomos à bendita festa. Logo na entrada notei que a noite seria longa, pinga com mel e tequila eram servidos à todas as pessoas que entravam no salão, ela ficou na tequila, eu fui nos dois, a intenção era sair carregado.

Passamos a hora inicial de festa sentados, eu acho que é sempre assim, conforme o álcool vai subindo nas pessoas as coisas se animam. Quando me dei por mim mesmo estava dançando YMCA com três amigos, apontando para a Bárbara na parte que precede o refrão, ela se mijava de rir, riu mais ainda quando nós três fizemos uma coreografia para “Beijinho no Ombro”, no último refrão ela me puxou pela a gravata e fez questão de mostrar que essa coisa de beijinho no ombro não colava com ela. Admito que fiquei sem ar.

Não vou ficar falando do que aconteceu depois disso porque eu não lembro muito e o que eu lembro me deixa com vergonha. Lembro de tirá-la para dançar Shakira, dancei sertanejo como se fosse valsa e tenho uma breve lembrança de ter dançado é o Tchan. Quem viu, viu. No final da festa todos estavam acabados, eram 5 da manhã e as luzes do salão já estavam acesas. Todos estavam jogados pelos cantos, procurando cintos, gravatas e paletós. As garotas buscam paletós para se agasalharem, estava frio lá fora, seguravam os saltos nas mãos porque haviam recebido chinelos no decorrer do evento, era o típico fim de festa, casais sentados às mesas e os solteiros tentando aquele beijo de redenção da noite.

O garçom vinha com copos de água e era como se não ingeríssemos líquidos há meses. Dei um gole na água, passei a mão no rosto, me encostei na mesa e a vi vindo em minha direção conversando com uma amiga. Ela estava com o cabelo preso e carregava em um das mãos o seu salto, na outra seu celular e uma bolsa, seus passos eram lentos, naqueles breves dez segundos tive um insight, desses que só gente bêbada tem e concluí, rindo para mim mesmo, que a beleza dela era tamanha que até no fim da festa ela estava Bárbara. Sempre Bárbara.

Bruno Amador – clique para me conhecer melhor

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