Carol

Era uma noite fria quando a conheci, o casaco grosso que ela usava cobria boa parte do seu corpo, deixando à mostra apenas o par de pernas que a sua saia mostrava, ela estava sentada perto do aquecedor da pizzaria e segurava um copo de coca-cola na mão, estava em silêncio enquanto todas as meninas ao seu redor conversavam, parecia observar o ambiente, mas depois me revelou que estava decidindo se iria pedir uma pizza doce ou comeria chocolate mais tarde ao chegar em casa. Optou por ambas as opções.

Cumprimentei as pessoas na roda e dei uma atenção especial à garota sentada, queria sentir o seu perfume e ele era doce. Me sentei numa cadeira também perto do aquecedor e ouvi o papo das garotas, falavam sobre Gossip Girl, nunca vi essa série, não me interessei, me limitei ao meu celular enquanto esperava os meus amigos chegarem, era aniversário de um deles e eu não conhecia metade das pessoas que estavam ali, mas eu fui por consideração.

Quando eles chegaram aparentaram estar meio surpresos ao verem aquela menina quieta ali “Carol você veio!? Que milagre!”, ela deu uma risada e disse que resolveu sair um pouco de casa, o aniversariante merecia segundo ela, logo depois deu um forte abraço nele. Esperamos a nossa mesa e entramos, sem querer me sentei ao lado da menina do cheiro doce, que agora tinha um nome, “Carol”, na verdade não sabia se era nome ou apelido, mas não iria perguntar né?

Ela pediu outro copo de coca, pedi o mesmo, milagrosamente o narrador-testemunha desse texto estava sóbrio em cada linha dele até então. Perguntei de onde ela conhecia o meu amigo, ela respondeu que o conheceu no colégio, ele era um ano mais velho, logo ela ainda estava no último ano do ensino médio. Ela me perguntou se eu fazia faculdade com ele, respondi que sim, éramos da mesma sala e íamos juntos para a faculdade, rindo ela comentou que devia ser uma emoção andar de carro com ele dirigindo, respondi no mesmo tom cômico que era sempre eu que ia dirigindo exatamente para evitar algum susto.

Ficamos conversando um bom tempo sobre as pessoas da mesa, me contou que já havia ficado com um dos caras mais podres que já conheci, óbvio que zombei dela, mas depois revelei que eu já havia ficado com uma das garotas que ela disse odiar, “nossos podres se equivalem” comentei, ela concordou e disse que o bom era aprender com os erros, por isso estava solteira agora, meus olhos brilharam nesse momento, confesso.

Depois de comermos pedi uma taça de vinho, eu tinha um dinheiro sobrando e o vinho estimula no processo criativo das histórias. Desculpa, mas boas histórias precisam passar por algum processo etílico. Ela pediu um gole, eu olhei bem para ela e pedi sua identidade, ela me deu um tapa de leve e disse que não tinha graça, respondi que era ilegal servir bebidas à menores de idade, ela desconversou e quis saber mais sobre os detalhes da história com a menina que ela odiava, encarei seu rosto e cedi um gole da taça, ela sorriu e agradeceu.

Ela tirou o casaco enquanto esperávamos a conta chegar, usava uma blusa branca justa ao corpo que comprovava que Seu Jorge acertou ao afirmar que ela era uma maravilha de mulher. “Alguém topa um bar?” Disse meu amigo logo após sairmos do restaurante, claro que topei. A Carol pediu para ir no meu carro, comentou baixinho que preferia não correr risco de vida, parei numa das ruas próximas e mais uma vez Seu Jorge acertou, ela andava bonito e tinha um brilho no olhar, provavelmente reflexo de algum dos holofotes do bar.

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Anda bonito e tem um brilho no olhar…

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Nos sentamos novamente lado a lado na mesa e eu puxei meu celular, abri o evernote e anotei uma ideia que acabara de ter, ela viu a tela e perguntou o que eu estava fazendo, respondi que escrevia, ela debochou e me desafiou: “escreve algo pra mim então”, respondi que não era fácil assim, ela retrucou falando que eu não era bom o suficiente, óbvio que ela estava brincando comigo, mas levei para o pessoal, disse que escreveria o final do texto ali na frente dela e mandaria para ela no dia seguinte, ela concordou. Peguei o celular e digitei: “O casaco grosso cobria o seu corpo, a bota boa parte da perna, mas seu sorriso deixava a alma transparecer”. Carol.

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