Recomendo ouvir essa música ao ler esse texto:
Ao chegar ela era inverno, sua roupa cobria cada centímetro do teu corpo, deixando de fora apenas o seu rosto, uma beleza sem precedentes. Sua fala era baixa e seus movimentos contidos. Acanhada ela tinha vergonha de pedir um copo de bebida e ficou sentada enquanto todos iam até a geladeira e se serviam. Demorei um pouco para notar sua presença, estava ocupado demais jogando videogame, homem pode ter quantos anos for, mas quando o FIFA começa o mundo ao redor deixa de existir, se a casa estivesse pegando fogo só notaria quando me queimasse. Perdi o jogo nos pênaltis, passei o controle para o próximo e fui até a cozinha pegar algo, notei sua presença e perguntei se ela não afeta a algo, ofereci a minha Skol Beats e ela aceitou. Tentei puxar um papo, mas sem jeito ela se limitava às respostas curtas.
Fiz algum elogio só para ver o sorriso que se esboçaria naquele rosto e então ela virou primavera. Suas bochechas rosaram e ela ganhou mais cor, provavelmente por causa do sorriso que acabara de dar, algo inesquecível. Agradeceu o elogio e brincou falando que eu devia falar isso para todas, respondi que não com a maior cara de pau possível e tentei de novo puxar algum papo, dessa vez ela correspondeu. Mais solta, sua voz calma deixou o clima mais agradável, já a conhecia de outras primaveras e sabia mais ou menos o seu jeito. Nos falamos poucas vezes, mas eu imaginava que em alguma hora o calor dela iria aparecer, ela foi bebendo enquanto eu tentava acompanhar, se as flores precisam da chuva para florescer, ela precisava de alguns mLs de álcool,
Me perguntou onde era o banheiro e eu indiquei, havia alguém usando então a levei para o outro banheiro, um que fica pertinho do meu quarto.
Disse que esperaria, mas eu insisti para ela ir logo, pediu licença para adentrar o corredor e tateou a parede em busca de um interruptor, estava tudo muito escuro, o clima era perfeito para um beijo ser roubado, mas não era o momento, me contive enquanto a guiava pela cintura, imaginava as coisas que se esconderiam por baixo daqueles panos, mas me contive novamente, ela ia vagarosa pelo corredor observando os portas retratos que estavam pendurados nas paredes, fez graça de uma foto minha criança e meio deixou meio sem jeito.
Notou os quadros na parede ao passar pela minha porta e entrou ali na minha zona, se deparou com um montinho de roupas em cima da cama ao entrar – rezei para que não houvesse alguma cueca jogada, minhas preces foram atendidas – leu o que cada quadro na minha parede falava (eu tenho uma parede coberta de quadros com algumas frases que gosto) e leu em voz alta um poema do Vinicius que está logo acima da minha cama “De manhã, escureço./De dia, tardo./De tarde, anoiteço./De noite, ardo.”, fez uma gozação comigo: “então quer dizer que de noite você arde?” Retruquei no mesmo tom de malícia “não é só de noite”, soltei um sorriso para deixar óbvio que estava brincando, ela sorriu de volta “você é muito besta Bruno”, continuou lendo e parou em um outro quadro, um texto meu chamado “A Madrugada”, perguntou de quem era e eu respondi que era meu, incrédula respondeu que não sabia que eu escrevia, apertei a barra de espaço do meu computador e disse para ela dar uma olhada, se sentou na cadeira e eu abri meu evernote, estava apoiado na bancada cobrindo-a com meu corpo, minha cabeça estava próxima do seu pescoço e podia sentir seu perfume.
E então ela começou a virar verão, senti um calor subindo pelo meu corpo e encostei minha boca no seu rosto, sentia sua mão envolvendo minha nuca enquanto meus beijos percorriam sua bochecha à caminho da boca, ela começou a se levantar e antes mesmo de eu beijá-la já estava de pé na minha frente, envolvi seu corpo, com as mãos na sua cintura a beijei. Pediu para eu ter calma, a porta estava aberta e todo mundo que passava ali podia ver. Imediatamente resolvi o problema, fechei a porta e voltei sem calma nenhuma, ela me puxava em direção a cama enquanto eu tentava tirar as roupas que estavam ali em cima, meus pais sempre falaram que eu devia ter mais organização, agora entendo o porquê. Ela se esgueirava por baixo de mim indo até a cabeceira da cama enquanto eu me esforçava para não esmagá-la com meu peso – reconheço que estou gordinho – era uma prova de resistência, estava há mais de 10 minutos me sustentando quando num ato friamente planejado, no meio daquele calor todo, a trouxe para cima de mim, o calor era tamanho que ela começou a tirou seu casaco, tentei ajudar levando junto a blusa. As roupas no chão era um sinal claro que estávamos começando a mudar de estação.
E sob as cobertas, viramos outono.
Bruno Amador – clique para me conhecer melhor
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