Carta Grande

De: São Caetano do Sul – Para: onde você estiver

Sei que sempre te disse que não queria algo sério e em nenhum momento menti, só te ter aqui ao meu lado me bastava, só que agora sinto a tua ausência, não que você tenha ido embora, pelo amor de Deus, chega de textos melancólicos falando de despedidas. É porque você foi viajar, pra longe, e eu só sei que estamos sem nos falar há dias porque o seu celular está sem sinal e eu sei que não é enrolação, seu visto por último no WhatsApp marca o número de dias da sua ausência.

A tua falta, mesmo que temporária, vem causando um efeito devastador em minha vida, primeiro que as outras garotas perderam a graça, simplesmente não vejo mais diversão em conquistá-las, inclusive desisti. Segundo porque isso acarretou numa falta de carinho fora do comum, estou há tanto tempo sem beijar que estou com medo de ter desaprendido, eu tô falando sério, beijo é algo importante na minha vida, preciso manter a prática em dia, as vezes eu consigo roubar um ou outro em balada, mas nenhum que possa suprir a ausência e o vício que o teu me causou.

Seus lábios devem ser recheados por algum tipo de substância alucinógena, porque eu literalmente, ficava em transe depois de cada beijo teu, queria mais, ficava completamente na tua mão, ou melhor, na tua cintura, quando não deitado na cama pensando no que iria fazer pra te trazer de volta pro jogo. Esse é o meu problema com você, eu perco o controle, eu quero mais e mais. Vai que alguma hora você acaba, você é um recurso finito, todo cuidado é pouco.

Nunca vou esquecer daquela noite no fim de novembro em que tudo isso começou, queria que você me explicasse o que aconteceu naquela noite. Não sei se porque era Lua Cheia ou se era porque Vênus estava em Capricórnio, mas algo estava diferente naquela noite, pessoas como você não aparecem simplesmente, alguma coisa cósmica te trouxe até mim, ou Deus tentou provar sua existência por meio da tua entrada naquele salão de festas.

Lembro como se fosse ontem você caminhando em direção ao bar naquele teu vestido azul. Na verdade você é a única coisa que me vem à cabeça ultimamente, acho que você é algum tipo de vírus, apagou toda a minha memória e me deixou num looping reproduzindo só imagens suas.

Na real o meu problema com você começou quando fomos no cinema e você resolveu andar de mãos dadas comigo no shopping, na hora eu nem pensei, correspondi, que mal faria, gosto de estar com você, mas quando eu cheguei em casa eu notei: vivemos numa cidade pequena, bastava meia dúzia de pessoas nos verem juntos e tcharan, todos iriam pensar que estamos namorando. Dito e feito, todas as garotas com quem eu falava se acuaram, elas sumiram misteriosamente, você e essa sua beleza divina espantaram as pobres coitadas, só me sobrou você.

“Sobrou”, desculpa você nunca será a sobra. Você sabe que entre todas eu sempre escolhia você, é que as vezes você tinha que ficar em casa, as vezes tinha que estudar – algo que eu não faço há um certo tempo – e sabe como é né? Eu precisava de material pra escrita, então me aventurava entre uma e outra, mas era bizarro, eu sempre acabava escrevendo sobre você, de alguma forma elas acabavam sendo você, buscava traços teus em todas as garotas, seja teu jeito moleca, teus olhos grandes ou seu cabelo liso, você era todas com as que eu saía, eu tô falando que você fez alguma coisa comigo menina.

Eu acho que tá mais pra alguma coisa que você tem, não que você faz, você não faz as coisas, elas são inerentes à você, você não precisa de maquiagem pra ser linda, não precisa de bebida pra ser engraçada, ou de horas de leitura para ser inteligente, você simplesmente é. Você tem algo dentro de si que atrai, isso foi provado naquela vez que você veio aqui em casa e o meu cachorro ficou parado enquanto você fazia carinho nele, ele inclusive deitou de barriga pra cima, eu acho que ele nunca fez isso com ninguém que não fosse daqui de casa, era como se ele estivesse indicando: “Cara é essa”.

Mas eu não vou descumprir minha palavra, a fidelidade à vida de solteiro é questão de honra. Embora às vezes essa minha fidelidade seja abalada, principalmente quando você sorri, quando você sorri eu tenho vontade de te pedir em casamento. Como você pode notar a sua ausência vem trazendo certas consequências mentais em mim.

As consequências também são fisiológicas. Como hoje de tarde: eu sentei à mesa e nem belisquei o almoço, fui indagado pela Isabel – a organizadora da minha bagunça e fazedora da minha comida – se estava sem apetite, olhei pro prato, olhei pra frente com os olhos meio baixos e respondi “acho que sim” logo após soltei uma bufada, como se estivesse tentando tirar um peso das costas. Ela me olhou meio torto e disse “Hm, isso é amor”, imediatamente coloquei pra dentro toda a comida do prato. Não, não posso estar amando, amo essa vida de solteiro, não amo?

Eu não consegui dormir também, virei a noite vendo TV de novo, quando me dei por mim, estava a Isabel chegando para sua labuta diária, novamente ela parou, me olhou e me perguntou: “você não dormiu?”, nem a respondi, minhas olheiras bastavam para isso, ela riu de mim e disse “me diz o nome da garota que conseguiu conquistar teu coração, vou fazer uma estátua”, entrei em crise, disse que não havia menina e sai correndo pro quarto como uma criança assustada, ela, óbvio, riu da minha cara.

Agora estou aqui sentado olhando o calendário, tentando lembrar que dia você foi embora – algo difícil depois de tantas cervejas – pra fazer a conta de quantas horas já estou sem você, para assim jogar no Google os efeitos da abstinência no nosso cérebro. Eu acho que estou entrando em crise, já perdi o apetite e o sono, já pensou se eu perco a razão, entro num táxi pro aeroporto, compro uma aliança e pego um avião rumo aonde você estiver? Já pensou eu acabo te mostrando meu texto ultra secreto para pedir uma garota em namoro, já pensou você aceita? Aí meu deus, tô pensando demais, preciso dormir logo, mas se eu dormir, vou acabar pensando em você, aí eu não vou conseguir dormir e aí vou acabar ficando maluco e vou perder a razão e vou embarcar num avião e aí… Ferrou.

PS.: Essa carta é grande, para demonstrar o tamanho da falta que você faz.

Bruno Amador – clique para me conhecer melhor

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