A vida muitas vezes nos engana. Engana quando pensamos que o que seríamos estava equivalente ao que queríamos ser. Quando mais novos, nos imaginamos chegando em um estado de perfeição, não só interior, como em termos de vida mesmo. Somos tomados por um sonho de sermos grandes, responsáveis, ter mil amigos e ao mesmo tempo, toda a felicidade do mundo. Essa felicidade que a gente tinha e não sabia. Que se perde quando descaímos de toda a ilusão mundana.
Não sou de reclamar da vida. Todos passamos por vários momentos de desapego forçado. Mas esse desapego é o que me preocupa. Ele se torna cada vez maior, conforme você cresce. Quanto mais os anos passam, mais coisas têm de ser deixadas de lado. Menos novidades aparecem em nossas vidas, menos oportunidades de mostrar um sorriso despretensioso. Mais responsabilidades, muitas vezes incoerentes, surgem. Por pressão, nos tornamos o que nunca achávamos que seríamos tão cedo. Adultos. E aquele que você tanto criticava por ser careta, ou algo do tipo, se vê formado em seu próprio indivíduo, sem nem ao menos uma mudança brusca que te alertasse disso. É como um processo natural, lento, quieto. E de repente, PÁ. Estamos ali.
O desconforto em tentar ser social, depois de tanto tempo sendo assim para que muitas das pessoas com quem você manteve contato sumissem do mundo, torna-se grande. Não é mais tão legal se abrir para todos. Não é mais tão legal buscar aquela fama de que todos devem te conhecer porque você é realmente interessante.
O que seria interessante pra esse mundo novo, mas que é tão igual à tudo? Quantas mágoas já não colecionamos por não entender o real funcionamento da vida? E quantas ainda não virão? A graça de aprender é errar, mas até quando? Nunca pensamos que isso não teria um fim?
Sempre acreditei que no momento, não estamos satisfeitos com o presente. Nunca. E isso parece um fato. Porque um indivíduo digno sempre sabe que tudo pode melhorar. Entretanto, até que ponto isso não passa de frescura ou um mimo? A vida não foi feita para ser bela, pelo menos não por completo.
Tanto é, que depois de um tempo, talvez por conta do sentimento saudosista, achemos que até aquele momento de tristeza seja engraçado nas nossas memórias. Foi mesmo? Ou será que a saudade de sermos o que éramos e pararmos ali fala mais alto?
Transformamos nós mesmos no que não queremos ser, pra ficar com saudade do que já fomos um dia, mas não desejávamos ser também. Somos complicados, facilmente contraditórios, e ainda assim, há beleza nisso. O que faz a ocasião é uma felicidade espontânea que surge logo depois. Nunca entenderemos de fato, porque novas experiências, mesmo que velhas, são sentidas de maneiras diferentes, por diferentes “nós” em diferentes momentos da vida.
A graça de viver talvez esteja na contradição.
Lucas Fiorentino – clique para me conhecer melhor.
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