Era verão quando nossos corpos suados se aqueceram naquela cama. Os sorrisos derretiam o coração, e beijos eram distribuídos na tentativa de refrescar as bocas sedentas. Naquele dia, o sol, que refletia os cabelos, fez brilhar os olhos. A explosão de sentimentos foi tão intensa quanto os quarenta graus que penetravam por entre as nossas peles. Borboletas – no estômago, principalmente – eram mais frequentes que as chuvas de fim de tarde. Sabíamos que era amor. Um amor de verão.

Pouco a pouco, a árvore da felicidade foi se despedindo. A perda do companheirismo, do respeito e do carinho nos fez perceber que o outono tinha chegado. Na época da colheita, os frutos de o nosso amor caíram por terra. Decidimos, então, colher apenas o que fora conveniente.

Ficamos com a saudade e com o desejo inacabado. O inverno chegou, o coração congelou. Procurei em outros corpos uma maneira de me aquecer, mesmo sabendo que o frio interno só passaria com você debaixo do meu cobertor – ou dentro de mim. O cinza dos dias, paradoxalmente, passou a colorir minha vida. Agasalhei-me contra os meus próprios sentimentos. Passei a negar o amor e a vontade de você que crescia em mim. Sofri como um cão de rua. Sem dono, sem calor, sem abrigo.

Mas, tudo bem. Agora já é primavera. São tempos de renascer novos amores, novos sabores, novas paixões. A coloração cinza recebe uma saturação gradual. É o coração plantando novamente. Quem sabe seja hora de você renascer dentro de mim. Pode até ser que nos reinventemos como frutos maduros prontos para um novo ciclo.

Ou, talvez, seja tudo ilusão momentânea. Cabe a nós decidirmos se esta será apenas mais uma estação, ou se esta será o ponto de partida de um trem comandado pelo amor.

De qualquer forma, te espero na mesma estação. Com uma mochila de memórias e todo meu amor pra te dar. Vem rápido. O trem não espera. Muito menos o tempo.

Kamila Volci 

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