Especialistas dizem que cinema é o melhor lugar para levar alguém que você deseja manter escondido dos olhos alheios, o escuro favorece o segredo. Porém essa recíproca não é verdadeira em cidades pequenas, como a em que eu moro, o shopping daqui é altamente frequentado por todos os meus amigos e amigas, é raro eu ir lá e não encontrar alguém no mínimo conhecido.
Mas contra todas as minhas convicções, fui com ela ao cinema, me esforcei para conseguir a sessão mais tarde possível, assim não precisaríamos ficar fazendo hora no shopping, o plano era perfeito no papel. Jantamos em algum restaurante caro que ela escolheu, uma facada por uns pedaços de pizza, mas tudo bem, a noite estava indo bem, fomos pra sessão do cinema, algum filme x só pra fingirmos que estávamos ali pelo cinema. Nos deram aqueles óculos 3D ridículos e claro que ela zombou do meu rosto com os óculos, como se ela não ficasse ridícula com aquela lente duas vezes maior que a sua cara, mas eu sou legal, só ri junto.
Peguei aquela fileira que tem três poltronas, que por sinal não fazem o menor sentido já que quase sempre são casais que se sentam ali, ocupando apenas duas das três poltronas, quem conhece cinema sabe, ali é o canto da magia. Sentamos, deixei a água que comprei entre nós – manter a boca úmida é importantíssimo – e esperamos o filme começar, ela começou a falar da escola, que as provas eram difíceis, que não aguentava mais matemática, ela reclama porque ainda não entrou na faculdade, faculdade é o capeta, as matérias difíceis ficam impossíveis e as fáceis ficam difíceis, me peguei estudando pra filosofia outro dia. Brincadeira.
Quando o filme começa ela levanta o encosto que nos separava e se encosta em mim, deixando meu braço se envolver por todo o corpo dela, quem nos visse ali até pensaria que somos um casal fofo, na verdade pensaria que somos um casal normal. Aproveitei o momento morno do filme para justificar a entrada inteira que eu paguei – já que paguei as duas meias (1/2+1/2=1) – a beijo, ela me beija, ela desencosta da cadeira, começa a me beijar com mais força, eu faço o mesmo, ela desce até meu pescoço e faz o favor de me dar um chupão, sem comentários, teria que explicar aquele vermelho pros meus amigos no bar hoje e o roxo no dia seguinte pra minha irmã, um tapa na cabeça a avisou que aquilo não deveria se repetir, ela riu. Ríamos bastante como você pode notar.
A deixei em casa e fui pro bar encontrar os amigos, era nosso ritual, toda sexta-feira: bar. Eu nem tinha sentado na mesa quando um deles berra: “E esse vermelho no pescoço aí Brunão ? Foi no paintball hoje !?” Eles já desconfiavam que eu estava com ela, tinha demorado muito para aparecer no bar, essa fora provavelmente a prova que me deixava como culpado. Antes de tudo, é necessário explicar o porque que eu escondia o caso de todos, eu havia acabado de sair de um relacionamento e já estava me envolvendo com outra garota, ela tinha literalmente terminado seu namoro na semana anterior, nossos beijos irem à público não seriam nada bom e de problema nas nossas vidas já bastavam nossos casos anteriores nos pentelhando.
Mas confiava nos meus amigos, contei à eles onde estava, com quem estava e eles começaram a se olhar até que um soltou, “eu já sabia !”, quem me conhece dificilmente não reconhece meus casos e paixões, eles reparam no jeito que eu olho para pessoa ou que eu converso com ela, mas o que realmente me compromete é o celular, eu não consigo ficar indiferente quando recebo as mensagens de quem eu gosto, eu pego imediatamente o celular, leio, releio, sorrio e respondo, depois fico conferindo o celular de minuto em minuto para me certificar de que a resposta ainda não chegou e é nessa checada de minuto em minuto que meus amigos me pegam, eles já começam a desconfiar.
Esse texto faz parte de uma série de contos chamado Nossa História. Gostou da história ? Domingo que vem revelarei a continuação dela ! Se você ainda não leu o primeiro texto basta clicar aqui !
Bruno Amador – Clique para me conhecer melhor
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