Passava da meia noite quando o calor tornava-se inquilino nos corpos embriagados. A loucura já era inerente aos habitantes daquela pequena área escura e barulhenta e a música guiava os corpos, enquanto os olhos se escondiam atrás das córneas com medo da explosão de luzes que acontecia. Passava da meia noite quando suas jabuticabas me encararam de forma tão intensa, que até a música fez questão de parar para dar foco aos novos protagonistas da noite.
Passava da meia noite quando o mistério do líquido vermelho correu por nossas gargantas, como se fossem gotículas de fogo, e repousaram sobre nossos fígados.
Passava da meia noite quando você afetou meu segundo órgão. A máquina de bombear acelerava mais do que o normal, e nossos corpos seguiam o ritmo, naquele vai-e-vem sem fim.
Passava da meia noite quando as escadas serviram de divã para nossos esqueletos cansados e as paredes atuaram como testemunhas daquela paixão. O sol acordava para assistir aos acasos que a Lua tinha criado. O mar agitava-se de tanta alegria, subindo cada vez mais para espiar os amantes fatigados. Os sorrisos do Sol eram estranhos à retina, e essa, incansavelmente, tentava continuar admirando aquelas jabuticabas.
Passava da meia noite quando você me guiou até o silêncio, me enrolando ao teu corpo, nos enrolando ao lençol.
Passava do meio dia quando acordei. O sol não sorria mais. A retina focava o lado esquerdo solitário da cama. O coração acelerou de novo, mas dessa vez, seguiu o ritmo só do “vai”. E o vem ficou pra outro dia.
Kamila Volci
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