Uma bagunça. Tanto o quarto, como a garota.

Mas, ela nunca foi de organização. Gostava mais das coisas espalhadas, sem lugar certo para estar. Assim como ela. Não se contentava com os vinte metros quadrados que a foram destinados. Ela queria mais. Ela queria o mundo. Ela queria tudo.

O caos sempre foi seu ponto forte. Morava na bagunça, tanto de seus sentimentos, como de seu quarto.Talvez, por isso, projetasse em seus pertences a vontade que habitava dentro si. O coração era pequeno para tanto amor que ali crescia, assim como a bagunça do quarto.

As canetas embaralhadas em cima da escrivaninha eram as responsáveis por traçar os caminhos tortos que ela seguia ao longo da vida. A lâmpada era uma tentativa de iluminar as dúvidas que a invadiam durante as noites. Os lençóis protegiam os livros, que recebiam os olhares velozes daquela menina. A estante segurava os perfumes que ela deixava preso nas roupas dos rapazes. A cômoda se refrescava com as gotículas de água que rolavam pelo copo naquelas tardes quentes de primavera. E aquela cadeira, ah… Aquela cadeira recebia como inquilino mochilas e toalhas molhadas. Sem contar das vezes que aguentou sobre seus três pés o peso de um corpo cansado.

Não havia nada no lugar. Ela não estava no lugar. Gostava de habitar outros ambientes, outros corpos, outras mentes. Ela adorava a bagunça. O estado de dentro refletia-se no lado de fora. E assim, ela bagunçava cômodos, corações e vidas.

Gostava da bagunça dos bares, da música alta, dos olhos perdidos. Amava desarrumar os cabelos enquanto dançava. Saía procurando outros quartos para bagunçar. Achava graça nas roupas misturadas, caídas pelo chão.

Roubava almas para transbordar a sua. Trazia todas para dentro de si e de seu quarto. Vivia com um pouco de cada, para nunca esquecer-se das pequenas “zonas” que cada um deixou dentro dela.

Por isso, peço-te perdão pela bagunça do quarto (e desse coração). São amores incontroláveis que causam isso…

Kamila Volci

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