Quem eu quero enganar? A vontade transborda no meu olhar, as palavras que saem da minha boca não correspondem aos movimentos que meu corpo faz, esse blazer não esconde meu coração palpitando cada vez mais forte, meus olhos tentam tirar o seu vestido à força enquanto eles ficam intrigados com a sua habilidade pra se equilibrar nesse salto de sei lá quantos centímetros.
Quem você quer enganar, seus olhos transbordam vontade, você tenta passar a mão no rosto pra esconder o sorriso, mas a ação é em vão, você dá os sinais, mexe no seu cabelo pra tentar disfarçar, mas não consegue, seu cabelo é uma das razões do brilho que se vê nos meus olhos cada vez que estou perto de ti. Você não tira os olhos de mim, como se algo dentro de você pedisse socorro, como se essa vontade de nós dois tivesse ganhado vida e estivesse falando comigo.
Esse é um dos problemas de termos tantos amigos em comuns, nossos programas costumam coincidir, vim pra formatura com o intuito de reencontrar velhos amigos e professores, mas não, encontro você. A solução e causa dos meus problemas, aquela que causa minha insônia, orbita meus sonhos e me põe na cama se assim quiser.
Quem a gente quer enganar? “Namoro ou amizade? “pergunta a mãe da menina. Um momento breve de silêncio é respondido por uma resposta uníssona, “amizade né tia”. Amizade é o que não falta entre nós dois e nunca faltou, nos demos bem logo de cara, em poucas semanas já passávamos horas conversando, mal você sabia das minhas intenções, na verdade ninguém sabia, nem eu sabia, a única que desconfiava era aquela sua amiga que consegue sentir um clima rolando há quilômetros de distância. E que clima rolava entre nós.
Eu tento criar uma deixa pra te encaminhar até um local mais quieto, mas sem chamar atenção, não queremos que percebam nossa falta, sempre somos candidatos a casal da noite quando estamos no mesmo lugar , parece que todo mundo já sabe, mas ficam com aquela pulga atrás da orelha sabe? E é nessa pulga que a gente trabalha, deixamos a dúvida no ar porque vai começar a colação de grau. Momento perfeito…
Vamos lá pros fundos enquanto todos olham atentos os formandos, vamos pro banheiro, você precisa descansar o pé, a coxa, as costas, descansa a boca, deixa ela em cima da minha, eu seguro seu corpo. Minhas mãos estão nas suas coxas, e as suas costas apoiadas na parede, ela está gelada? Troca comigo, se apóia em mim, se eu pudesse tirava esse vestido agora mesmo, mas acho que não daria muito certo, ou daria? A gente dá um jeito, a gente sempre da um jeito, só sobe ele um pouco, só chega mais perto, fica em silêncio agora, quinze minutos no paraíso, até chegarem a letra Y na chamada dos formandos, “Yuri”. Deu.
Vai você na frente e não me espera, arruma esse cabelo, limpa o batom, ajeita o vestido e se senta na mesa de volta. Eu amo essa sua capacidade de fingir tão bem que nada aconteceu, não sei se essa foi uma das coisas que você aprendeu comigo ou se você simplesmente nasceu assim. A mentira é um dom, falando sério. Quando você se senta te perguntam por onde você andava. Sem titubear você responde na lata e sem mentir: “No banheiro, er.” Sento no meu lugar me ajeitando, me perguntam onde eu estava, digo que fui falar com uns professores antigos, nossas respostas não podem ser iguais em hipótese alguma.
A noite vai ser longa e esses quinze minutos só serviram para aumentar nossa chama, assopraram a brasa e criaram fogo, tentamos disfarçar, mas o álcool vai entrando na minha corrente e álcool é combustível. Mantenho a calma e a compostura quando falo com você, eu sei que você vai dar um jeito, sempre damos um jeito, lembra da primeira vez que a gente se beijou ? Demos um jeito de sumir com todos os meus amigos do recinto.
Você num golpe de mestre diz estar passando mal, eu, sempre de ouvidos atentos, me ofereço para te levar pra casa num táxi, esse nosso entrosamento eta espetacular. Óbvio que nos olharam com certa suspeita, mas quem liga? Eu, você, duas notas de dez e um táxi, bem melhor que a proposta do Luan Santana ein? Minha casa está vazia até amanhã à tarde, destino? Não, planejamento. Convenci meus pais a viajarem e despachei a minha irmã pra uma festa com after na casa de uma amiga. Não demora muito para zíperes se abrirem e roupas voarem, não demora muito para você voar na cama e eu relembrar como é bom te provocar, prendo suas mãos e desço beijando seu corpo todo (lembra do Danoninho sem colher?), você corresponde e fica por cima de mim – que cena – repete o meu ato, desce beijando meu corpo, mas dessa vez usa suas unhas pra apimentar um pouco a obra.
É nessa pegada que vamos até o amanhecer. Pasmos ao ver o Sol nascendo pela janela, resolvemos nos dirigir até a sala, sentados no sofá envoltos por um edredom observamos o Sol subindo e a Lua se escondendo, óbvio que esse nosso dia ia render, dúzias de energéticos foram tomados horas atrás, alguma hora você ia deitar de novo naquela cama comigo, mas não irei entrar nesses detalhes, essa cena ficou tão bonita na minha cabeça, que assim como a Lua, deixarei o resto da história se esconder atrás desse ponto.
Bruno Amador – clique para me conhecer melhor
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