Somos nós, que escrevo todos os dias, somos nós entre todas essas vírgulas muitas vezes mal colocadas, entre todos esses parágrafos que muitas vezes não fazem sentido algum, entre todos esses pontos que terminam abruptamente contos, deixando aquele gostinho de quero mais. Todos os poemas, crônicas, contos somos nós os personagens principais e únicos.
As histórias tristes, as românticas, as cafajestes, em todas elas existem um pouco de nós, até mesmo quando eu não quero escrever, acabo escrevendo sobre nós, simplesmente porque nós saímos de um filme e se não saímos, com toda certeza deveríamos ser a história de um, juntos fizemos a realidade virar sonho, um daqueles sonhos serenos que não queremos que acabe nunca. Daríamos um filme, já te disse isso né?
Você é a minha inspiração desde o momento em que você leu meu primeiro texto, desde que você sorriu a primeira vez só de imaginar a possibilidade das coisas que eu falo serem de alguma forma pra você. Não é que após um tempo passou a ser?
Não é que eu escreva só sobre você, isso pareceria clichê, eu escrevo sobre todas as mulheres, todas que eu consigo lembrar – nunca se sabe a quantidade de álcool – e todas que merecem ser escritas, mas o problema mora aqui, você é todas em uma. Você é o meu caso de uma só noite e o de várias, você é a que meu deu o fora e a que eu roubei um beijo depois de uma cantada podre.
Você é a loira, a morena ou a ruiva, todas elas são um pouco de você, repare como todas as mulheres que escrevo, tem alguma características sua, algumas são pequenas, outras magras, outras tem uma beleza estonteante e óbvio, todas têm a sua personalidade, uma mulher forte, imagino que gosto desse tipo de pessoa por somente essas mulheres conseguirem me manter na linha, mesmo que seja através de discussões, minha linha é por muitas vezes torta, mas tudo bem né, o expulso da cama sempre sou eu.
Mesmo depois de tanto tempo, são as tuas pernas desnudas que passeiam pelas linhas dos meus textos é tua a mão que molda minhas estrofes é a tua boca, que me impede de rimar. Você realmente acha que eu seria capaz de inventar tanta coisa sem ter alguma inspiração por trás? Cara é óbvio, é tua a roupa que eu tiro, é teu o sorriso que eu descrevo, são teus os olhos que me lêem.
São teus os conselhos que escrevi, é teu ombro que chorei, é tua a mão que me levantava. São tuas as unhas que me arranhavam embaixo da mesa e foi teu o fora que eu levei a primeira vez, quantos foras você me deu antes do primeiro beijo? Foram de mim que meus amigos e você riram, é teu o riso que eu busco enquanto escrevo cada linha dos meus textos.
São teus lábios mordidos que me fazem buscar ar em cada história, são teus os dentes que me mordem e distribuem roxos pelo meu pescoço, as bochechas que rosam cada vez que um elogio é dito ao pé do ouvido são tuas também, foi você que me disse que eu tinha um sorriso de cafajeste, você despertava o cafajeste e o romântico que moram em mim e num conflito de personalidades, me tornei único ao teu lado.
Somos nós embaixo das cobertas e nas idas ao cinema, nos exageros alcoólicos e alimentícios, dentro do carro ou do banheiro, do mar, da piscina ou de casa, nas festas, casamentos, baladas, elevadores, bares e ruas, com roupas ou sem, atrás das portas fechadas, entre as quatro paredes e tantos segredos, somos nós no apartamento 32.
É de nós a falta que sinto quando deito na cama e consigo me esticar por inteiro, é nosso o vazio no meu quadro de fotos e na memória do meu telefone, o destino nos uniu nos mesmos poemas e estrofes, nos mesmos contos e parágrafos e independente de quantas vírgulas, parágrafos e pontos tenhamos, o final dará seu jeito de ser nosso. Não demos um filme, mas pelo menos, demos um livro.