Monte o final

10h da manhã numa quarta-feira ensolarada durante as férias de verão, rotina normal, acordo, tomo café e dou uma olhada pela janela pra ver se o céu ta firme pra uma corrida no Chico Mendes. A previsão mais uma vez acerta, porém esqueceram de acrescentar uma coisa, a vizinha do 32 estaria na piscina dando um retoque no bronzeado.

Oh Pai ! Quero ser magro, mas a vida não deixa, primeiro a maior idade e o fato de estudar numa universidade federal, algo que me permite ter uma vida boêmia e bem agitada, com alguns luxos que não seriam possíveis se pagasse a faculdade, depois esse ser deitado na espreguiçadeira mostrando sua cintura 36 pra todos os 15 apartamentos que dão pro fundo do prédio, eu tento, mas olha, tá difícil…

Olho no espelho e concluo, definitivamente não descerei sem camisa, não que eu esteja gordo, mas também poderia estar mais magro. Busco algum livro para pagar de culto e desinteressado, e nunca, jamais, em hipótese alguma esquecer o óculos de sol, óculos de sol foi a invenção do homem cafajeste, a lente preta não permite que a observada saiba para onde seus olhos estão olhando, e claro, nunca é para o rosto.

Resolvo descer com uma regata, uma toalha e com o “Lobo de Wall Street” em mãos, se você gostou do filme, acredite, o livro está mil vezes mais recheado com as extravagâncias de Jordan Belfort, o episódio do arremeso de anãos no alvo é fichinha perto dos relatos desse livro, esse cara é um gênio. Claro que o livro é só um mero figurante, ele servirá só para a dita cuja achar que meus olhos olham para as páginas dele. A cumprimento como quem não quer nada, e reclino na espreguiçadeira abrindo em alguma página do livro.

Após um tempo de silêncio resolvo fazer a tradicional pergunta “a água tá fria ?”, ela responde que não, e emenda que logo irá entrar de novo, eu, nada bobo, pergunto se ela se incomoda se eu entrar junto, “claro que não”, incrível…Incrível como o mergulho dela não levanta absolutamente nada de água ao redor, enquanto eu observo toda aquela conjuntura se movendo dentro d’água, começo a sentir umas gotas respingando no meu pé, até que ela pergunta “você não vai entrar ?” Eu acho que devo ter sido alguém muito bom numa vida passada, porque tudo conspira a meu favor hoje.

Entro deslizando pela borda, nada muito espalhafatoso, bem discreto, afundo com a cabeça que fritava no sol, e me aproximo para conversar um pouco. Não lembro do que falamos e não estou com a criatividade pra simular tal conversa, mas ela acabou com nós dois dentro do elevador uma garrafa de vodka, limões, morango, açúcar e gelo, como eu amo essa combinação. Aparentemente íamos fazer caipirinhas enquanto conversávamos na beira da piscina, muito bom pra ser verdade. Entre uma caipirinha e outra ela puxa meu óculos tão rápido que eu nem tive tempo de desviar o olhar, ela faz uma expressão de quem não ficou muito surpresa com o que viu, e gostou, dou um sorriso e digo “Me pegaram…”

Ela levanta pra pegar mais gelo, mas ela não simplesmente levanta, ela LEVANTA, ela provoca, e provocações são o meu fraco. Eu vou atrás dela e ofereço uma caipirinha de morango, ela diz que ama morangos, e eu amo acertar os gostos femininos, faço o drinque e me aproximo dela, começo a jogar um papo displicente, com indiretas, que começam a ficar cada vez mais diretas e começam a deixar de ser frases, viram movimentos, e mãos, e bocas, e “BRUNO CAFÉ TÁ NA MESA” 10h da manhã numa quarta-feira ensolarada durante as férias de verão, rotina normal, acordo, tomo café e dou uma olhada pela janela pra ver se o céu ta firme pra uma corrida no Chico Mendes. As melhores histórias sempre ficam em aberto.

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